quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Direitos Humanos completa 60 anos

UN Photo
"O principal legado [da Declaração Universal dos Direitos Humanos] é o reconhecimento de que, apesar das diferenças étnicas, religiosas, sexuais, políticas, econômicas, culturais e de poder, todos têm direito a ter direitos. O principal deles é o direito à vida, do qual decorrem as liberdades civis, políticas e os direitos coletivos."
Sérgio Adorno, coordenador do Núcleo de Estudos sobre a Violência da USP, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, em 10/12/2008, por ocasião dos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Dia Mundial de Luta contra a AIDS

Em São Paulo, laços vermelhos no Obelisco do Ibirapuera. Foto G1

Em Brasília, a instalação mostrou o quanto as pessoas que vivem com HIV e AIDS ainda estão isoladas socialmente no Brasil. Foto G1

Enquanto ainda nascerem bebês com HIV, enquanto as pessoas ainda se infectarem com o HIV, nada teremos o que comemorar. Temos de continuar a luta contra a epidemia, o preconceito, o estigma e a discriminação que a AIDS ainda gera. E com a morte que ceifa vidas.

Entrevista
Fui procurado pela rádio CBN pra falar como é viver com HIV. Disponibilizei o áudio, mas o site da emissora foi reformulado. Como o novo podcast tocava automaticamente, preferi linkar a página em que a entrevista pode ser ouvida.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Campanha do Dia Mundial ou do Carnaval?

Foi lançada na manhã desta terça-feira no auditório Emílio Ribas, sede do Ministério da Saúde, em Brasília, a campanha do Dia Mundial de Luta contra a AIDS de 2008. Com foco nos homens com mais de 50 anos, a “Campanha Clube dos Enta” tem por slogan as frases “Sexo não tem idade. Proteção também não”.

A escolha dessa faixa etária, principalmente homens, como “público-alvo” para a campanha deveu-se à incidência de AIDS ter mais que dobrado nos últimos dez anos, de 7,5% em 1996 para 15,7% em 2006, segundo dados do Programa Nacional de DST e AIDS (PN-DST/AIDS) do Ministério da Saúde nesta população.



Veiculado a partir do último domingo na TV, o filme não traz inovações tecnológicas, estéticas ou novas informações, e é apenas bem feito. Mas, o que mais incomoda é que a peça publicitária parece ter sido produzida para a campanha de Carnaval. Para justificar o título da campanha – o clube dos “enta” –, são utilizadas rimas como ‘cumprimenta’, ‘polenta’, ‘pimenta’, ‘menta’, ‘aposenta’, ‘aumenta’, ‘cinqüenta’, ‘sessenta’, ‘setenta’, ‘aparenta’, ‘experimenta’, ‘presidenta’. O preservativo é mostrado apenas duas vezes: a primeira, quando um dos sócios do clube diz que “com camisinha a segurança aumenta”, e quando todos mostram a camisinha e dizem em coro “experimenta”.

Entram para o clube dos “enta” as pessoas que chegaram aos quarenta. Aí é perdida a oportunidade de mostrar as pessoas que têm envelhecido com AIDS, infectadas nos primeiros anos da epidemia que ainda resistem aos efeitos do vírus e dos medicamentos. Nas campanhas de 2006 e 2007, não foram esquecidas as pessoas com HIV, que – tanto as vivas quanto as que já se foram – deveriam ser lembradas no dia 1° de dezembro.

Outro problema é a falta de realismo da campanha. Homens da faixa etária “alvo”, além de não terem o hábito do uso do preservativo, também são mais reprimidos quando falam de sexo. O que sobra na rima falta no didatismo.

Assim, talvez fosse mais interessante dizer que não é só de medicamento para disfunção erétil que faz uso essa faixa etária, como também as garrafadas com misturas a base de catuaba e outras ervas ditas afrodisíacas e que, uma vez ereto, o pênis requer o uso de preservativo para preservar a espécie.

Por fim, faltou um pouco de referencial teórico para dar substância às rimas fáceis. Até mesmo pra explicar o porquê da combinação de polenta e chiclete de menta com camisinha.

PS: Para acessar cartazes, spots de rádio, dados e informações oficiais da Campanha do Clube dos Enta, visite o hotsite do Dia Mundial de luta contra a AIDS - 2008, do PN-DST/AIDS.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Programa de AIDS lança filmes para salas de espera

O Programa Nacional de DST e AIDS (PN-DST/AIDS) do Ministério da Saúde lança amanhã (06/11) às 19 horas, em Brasília, a série de documentários “Histórias de todos nós”. O lançamento faz parte da programação oficial da 8ª ExpoEpi - Mostra Nacional de Experiências Bem-sucedidas em Epidemiologia, Prevenção e Controle de Doenças.

Os documentários misturam testemunhais e reportagens com cidadãos e cidadãs comuns. “Reunimos depoimentos de pessoas comuns para criar empatia e identificação em quem assiste ao filme. Assim, trabalharemos para reduzir estigma em torno das doenças”, afirma Mariângela Simão, diretora do PN-DST/AIDS.

Dos sete documentários produzidos, três já estão integralmente disponíveis no You Tube. A série “Histórias de todos nós” reúne filmes sobre prevenção, diagnóstico e formas de transmissão da AIDS e de outras DST (doenças sexualmente transmissíveis).

Versões compactadas, de um minuto e meio, serão encaminhadas também às emissoras públicas de televisão para que os filmes sejam incluídos em suas programações. “Essa é uma forma de ampliar a audiência dos materiais e a oferta de informações com qualidade sobre DST, HIV e AIDS para a população”, explica Mauro Siqueira, produtor e diretor da série.

Os documentários produzidos abordam os seguintes temas: “Pega ou não pega?”, “DST” (dos vídeos disponíveis é o único em que há um erro nos caracteres), “Transmissão Vertical”, “Fique Sabendo”, “Preconceito”, “Vivendo com HIV/AIDS” e “Redução de Danos”, cujo vídeo disponibilizo abaixo.



Os materiais produzidos serão exibidos em salas de espera de serviços de saúde de todo o país e em outros locais onde a discussão sobre os temas podem ser estimuladas. Nessa primeira edição, 20 mil cópias serão encaminhadas aos Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) e Unidades Básicas de Saúde (UBS), que dispõem de estrutura.

Interessad@s podem encaminhar solicitação de cópia para a Assessoria de Comunicação do PN-DST/AIDS pelo e-mail publicidade@aids.gov.br. Depois do lançamento, os vídeos estarão disponíveis na página do MediaCenter do portal do PN-DST/AIDS.

Na minha modesta opinião, os vídeos são muito bem feitos e devem, segundo expectativas pessoais apresentadas no trabalho de conclusão de curso de pós-graduação em Comunicação e Saúde, facilitar o entendimento d@s usuári@s dos serviços de saúde sobre as questões que muitas pessoas têm medo de fazer aos médicos.

P.S.: Como os links dos vídeos estavam errados, como apontado pela amiga Mié em seu comentário, fiz o link diretamente do Media Center do PN-DST/AIDS. Peço desculpas pelo contratempo.

domingo, 19 de outubro de 2008

O drama nosso de cada dia

Logo cedo recebi um pedido de amizade no orkut. Entrei num perfil vazio, sem amigos ou comunidades. O autor dizia que havia feito a página para encontrar novos amigos, e que estava desesperado. Deixei um recado e imediatamente recebi a resposta. Não é a primeira vez que isso acontece. É a repetição de uma situação parecida, ocorrida meses atrás, que exceto uma ou outra especificidade têm a mesma faixa etária, orientação sexual e ocorrência: infecção sexual em relação afetiva. Nem o amor nem a paixão previnem o HIV.

Em ambas soube de mais detalhes minutos depois pelo MSN. Se na anterior o diagnóstico positivo para HIV estava confirmado, nesta apenas o diagnóstico do outro por enquanto é positivo. Há outras histórias...

A repetição do modelo de aproximação traz consigo a reflexão do diagnóstico positivo. Não tenho mais a menor idéia do que eu seria se não tivesse sido infectado pelo HIV aos 20 e poucos anos. Mas certamente, tive de mudar todo o meu projeto de vida, ainda que cada vida tenha uma história.

Passados quase três décadas de epidemia, as pessoas ainda não aprenderam a perceber a própria vulnerabilidade.

Pré-titulação
Finalmente, terminei meu trabalho de conclusão de curso de pós-graduação. Tinha três opções: uma monografia, um plano de comunicação e um projeto de pesquisa de mestrado. Escolhi o último. Nele, proponho um estudo de viabilidade do uso da televisão com transmissão de programas específicos em salas de espera de serviços de saúde.

Nos serviços de atendimento a pessoas com HIV e AIDS, por exemplo, onde a maioria dos usuários tem de zero a sete anos de escolaridade, a interação imediata que a TV proporciona seria um bom instrumento de comunicação e educação. Vamos ver o que acontece.

Bolha financeira
A bolha nem tinha estourado e já fazia vítimas. Fui chamado para uma entrevista para trabalhar na comunicação do terceiro setor de uma instituição financeira. Dias depois da entrevista, a bolha arrebenta e nem um muito obrigado...

A quebradeira nos mercados também vai tirar algum recurso financeiro da AIDS. Principalmente aqueles destinados à pesquisa de vacinas. E por falar em vacinas, em entrevista publicada dia 13 no jornal Folha de S.Paulo, o agora Nobel de Medicina Luc Montagnier se colocou contra a quebra de patentes de medicamentos. Segundo ele, as pesquisas de vacinas perderiam muitos recursos. Faltou dizer que a maioria dos recursos alocados em pesquisas de vacinas são estatais.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Artistas participam de campanha contra a sífilis

O terceiro sábado do mês de outubro foi consagrado, desde 2006, como o Dia Nacional de Combate à Sífilis. Em 2008 não será diferente e a data será marcada em 18 de outubro.

A sífilis é uma doença sexualmente transmissível (DST) de grande incidência mundial. No Brasil não é diferente. Além da transmissão sexual, também pode ser passada da mãe infectada para o filho durante a gravidez ou no momento do parto (sífilis congênita).

O Centro de Educação Sexual - CEDUS, produziu no ano passado uma campanha de mídia composta por dois spots de vídeo e dois para rádio, com testemunhais de duas duplas de artistas globais sendo um deles com Camila Pitanga e Tony Ramos e o outro com o casal Glória Pires e Orlando Moraes.



Produzidos pela XBrasil, os vídeos agregam tom informativo e didático, não transferem para o telespectador a responsabilidade, mas traz o telespectador para o conceito de auto-cuidado.

Apesar de produzidos em 2007, vale a pena a divulgação, pois a sífilis, principalmente a congênita, ainda não foi erradicada e, como toda DST, abre uma porta importante para a transmissão do HIV.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Constituição Cidadã completa 20 anos

“Acredito que fizemos uma Constituição extremamente avançada. É bem possível que a principal razão disso tenha sido a participação popular, como jamais houve na história deste país. Eu lembro das milhares de pessoas que circulavam dentro da Câmara e do Congresso Nacional, fazendo reuniões com todos os líderes, entregando cartas e propostas, fazendo pressão. Conseguimos retratar na Constituição um pouco da cara do que a sociedade pensava naquele momento, sobretudo a sociedade organizada. Acho que isso foi extremamente importante para o país, porque ela está hoje balizando e garantindo que a gente tenha o maior período de democracia contínua no Brasil.”

Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República Federativa do Brasil, sobre os 20 anos da Constituição Cidadã de 1988; trecho de entrevista publicada em 5/10/2008 no jornal Folha de S.Paulo.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Atravessando oceanos

Apresentei estas SaudAids em junho no VII Congresso Brasileiro de Prevenção das DST e AIDS sob o título de “Blogosfera PositHIVa: uma experiência em rede”. Agora, a idéia de reunir na seção outros blogs de pessoas vivendo com HIV e AIDS atravessa o Atlântico e ancora em dois blogs portugueses.

O blog Tempo de Janela reformulou seu visual e aderiu à Blogosfera PositHIVa. Escrito por três portugueses que vivem com SIDA em além-mar, Mié, uma das blogueiras já esteve aqui e fez comentários. Sidadania Portugal, blogado pelo Alex, da equipe do Tempo de Janela, também fez o mesmo. Ontem recebi um e-mail dele perguntando se poderia usar o título Blogosfera PositHIVa. Fiquei simplesmente lisonjeado.

Além de reunir blogs de outras pessoas vivendo com HIV/AIDS, a Blogosfera PositHIVa pode ser traduzida como um ato de apoio à luta pela vida de algumas dessas pessoas que não têm com quem colocar suas alegrias, tristezas, angústias e insights pessoais e o fazem anonimamente pela blogosfera.

Como numa rede, tecemos virtualmente laços de solidariedade para atravessar não apenas o Atlântico, mas os oceanos de estigma, preconceito e discriminação às pessoas que vivem com HIV e AIDS/SIDA.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Vídeo ajuda SP a se prevenir contra o HPV

Termina hoje em São Paulo a exibição de mais um vídeo elaborado e produzido pelo Programa Municipal de DST/AIDS da cidade mais populosa do país. A prefeitura elegeu esta a VI Semana de Municipal de Prevenção ao HPV, doença sexualmente transmissível (DST) que pode transformar-se em câncer de colo de útero nas mulheres e câncer peniano nos homens.

Segundo o PM-DST/AIDS de São Paulo, o HPV está vinculado a quase 100% dos casos de câncer de colo de útero e a quase 50% dos casos de câncer peniano, mas também pode ser responsável pelo câncer anal. Mais conhecido como crista de galo, o Papilomavírus Humano é chamado de condiloma acumulado pelos médicos, por se apresentar, em estágio avançado como uma couve-flor.

A exibição do vídeo teve início na segunda-feira (08) na Rede São Paulo Saudável, que conta com mais de 500 televisores nos postos da rede pública municipal de saúde. Com cerca de 30 segundos, o vídeo é mais bem produzido e tem um timing melhor que o primeiro (veja abaixo). Sem inovações a peça cumpre o papel de informar e orientar. Ponto para a comunicação visual e para a equipe de comunicação do Programa Municipal de DST/AIDS de São Paulo.

Para assistir ao vídeo sobre o HPV acesse o site do Programa. O PM-DST/AIDS de São Paulo também tem um endereço no Second Life. A sede virtual do Programa pode ser visitada no endereço MLBR Ilha Anhangabau 1 - 140,116,37.

Bolivianas

A Bolívia vive uma de suas piores crises institucionais deste século, deflagrada pelos conflitos gerados com a maior ou menor receita de imposto das regiões para o governo federal, proposta pelo presidente Evo Morales.

Na semana passada, recebi a nota “Unidade na Diversidade”, elaborada ao final do 8° encontro boliviano de pessoas vivendo com HIV/AIDS realizado em Tarija no final de agosto, onde anteontem houve depredação de parte do gasoduto Brasil-Bolívia. Emocionante, o documento já previa o confronto entre bolivianos e, de tão forte, traduzi para o português e o publiquei na página da RNP+ Brasil. Sobre a tradução e publicação do texto, Gracia Violeta Ross, representante nacional da REDBOL (Rede Boliviana de Pessoas Vivendo com HIV/AIDS) disse que devemos aprender a lutar contra os verdadeiros inimigos [que no caso das pessoas soropositivas é o HIV]. “Bolívia está a ponto de dividir-se por causa do poder”, escreveu ela.

Hoje recebi o link de spot com a assinatura do Ministério da Saúde e dos Esportes da Bolívia contra a homofobia e a transfobia. Entre a população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais), o ódio dirigido à comunidade é um dos principais fatores de vulnerabilidade ao HIV. Na Conferência de AIDS do México, o coordenador do Programa de AIDS mexicano disse numa plenária que homossexuais masculinos têm na América Latina 30% a mais de chances de contrair o HIV do que em outros continentes.

Veiculado na Bolívia por ocasião do Dia Mundial contra a Homofobia e a Transfobia (17 de maio) e Dia Mundial do Orgulho Gay, Lésbico e Trans (28 de junho), o spot tem 43 segundos e foi incorporado nesta semana ao YouTube.



Não conheço a Bolívia, mas imagino que a maioria dos bolivianos seja tão machista quanto a maioria dos brasileiros. Por isso, o spot me surpreendeu. Feito com testemunhais de homens e mulheres, jovens e maduros, lésbicas, gays, bissexuais e transexuais, a peça marca delicadamente a luta contra o preconceito e o estigma não apenas no país andino, mas em toda a América Latina.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

SP veicula informação em ônibus para milhões

A partir desta segunda-feira, os paulistanos começaram a assistir, nos cerca de 1,5 mil ônibus da cidade que possuem aparelhos de televisão, spots sobre a importância da testagem do HIV e outras informações sobre os serviços de DST/AIDS espalhados pelo município. Além dos ônibus, os spots também serão veiculados na rede de saúde municipal, com mais de 500 pontos implantados.



Sem grandes invenções, o vídeo informa aos passageiros dos ônibus que a cidade possui locais especializados para testagem e tratamento das DST e do HIV/AIDS, bem como os horários de funcionamento dos serviços. Mas o vídeo tem a vantagem de chegar a milhões de usuários de ônibus todos os dias.

Segundo o setor de comunicação do Programa de DST/AIDS da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, até o final deste ano ainda será produzido mais um spot, desta vez alusivo ao Dia Mundial de Luta contra a AIDS. “Há planos de se produzir outros vídeos com temas como HPV, tuberculose e abordagem sindrômica das DST”, mas tudo vai depender de disponibilidade orçamentária, possibilidade real de exibição dos vídeos e boas idéias para que os planos sejam concretizados.

“Prevenção às DST/Aids em uma cidade como São Paulo é assunto que envolve toda a população, mais de 11 milhões de habitantes. Para isto, a utilização de meios de comunicação públicos como esses, que chegam diariamente a milhões de pessoas, são fundamentais”, afirma Maria Cristina Abbate, coordenadora do Programa Municipal de DST/Aids de São Paulo.

O material que está sendo divulgado nas tevês está disponível no site do Programa Municipal de DST/Aids de São Paulo, onde podem ser encontrados outros materiais de prevenção e tratamento em DST/Aids (www.dstaids.prefeitura.sp.gov.br). O Programa Municipal de DST/Aids de São Paulo mantém também uma sede virtual para ações de prevenção no Second Life que pode ser visitada no endereço: MLBR Ilha Anhangabau 1 - 140,116,37.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

‘Positivo ou não’ joga sobre estigma para combater a AIDS

A Rede MTV, mtvU, a Rede de faculdades 24 horas Peabody, o Emmy Awards e Fundação Família Kaiser se associaram à revista POZ, dirigida às pessoas que vivem com HIV e AIDS nos EUA, para desenvolver Pos or Not (Positivo ou Não), um jogo on-line feito para confrontar o estigma que ainda existe sobre o HIV/AIDS mais de 25 anos depois do primeiro caso ter sido relatado.

Pessoas de todas as partes dos EUA, “algumas vivendo com HIV, outras não”, abriram suas vidas pessoais para tentar mudar o estereótipo sobre quem está infectado com o vírus. Os jogadores, baseados apenas em fotografias e informações pessoais, têm de responder se a pessoa do retrato é positiv@ ou não.

O objetivo do jogo é mostrar que não se pode afirmar se uma pessoa tem ou não o HIV apenas pelo olhar da foto, pelo gênero, idade ou interesses pessoais. Assim, confronta os estereótipos sobre quem está infectado pelo vírus, e fornece informação de como impedir a propagação da epidemia. Pos or Not pretende quebrar as barreiras que as pessoas têm de usar proteção para se previnir, fazer o teste e falar abertamente sobre o HIV. Ao mesmo tempo o jogo ajuda a reduzir o estigma de muitas pessoas sobre aquelas que vivem com o HIV diariamente.

Os associados do projeto Pos or Not se dizem “imensamente gratos aos homens e mulheres que ofereceram suas histórias pessoais para este jogo”. Para eles, os estudantes universitários que criaram o conceito do jogo “estão abrindo caminho para o futuro do ativismo digital”. A iniciativa convida interessados em desenvolver formas de o jogo ser executado em outras redes e plataformas para entrar em contato pelo e-mail MyIdeas@posornot.com.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Medicalização da prevenção é fortalecida no México

Criminalização da transmissão do HIV, microbicidas à base de anti-retrovirais, especialmente o tenofovir, profilaxia pré-exposição ao HIV, profilaxia pós-exposição ao HIV, dificuldades do cumprimento das metas da ONU para a AIDS até 2010, especialmente no que diz respeito ao acesso universal, saúde sexual e direitos reprodutivos das pessoas vivendo com HIV/AIDS (PVHA), certeza de cura distante e decepção com os estudos de vacina STEP, além circuncisão masculina. Estes assuntos deram a tônica que permeou os debates da 17ª Conferência Internacional de AIDS realizada entre 3 e 8 de agosto de 2008 na Cidade do México.

A medicalização da prevenção e a circuncisão masculina foram as principais tônicas da AIDS 2008. A enorme visibilidade em torno dos temas medicalizantes parece ter sido uma resposta ao enfático e contundente discurso de Cristina Pimenta, da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA), proferido em uma sessão plenária da conferência anterior, realizada em Toronto, Canadá, no ano de 2006.

A questão dos direitos sexuais e reprodutivos das pessoas vivendo com HIV/AIDS (PVHA) repercutiu no Brasil. O jornalista Alexandre Garcia caiu numa armadilha ao dizer que mulheres com HIV não deveriam ter filhos. O moralismo de seu discurso foi amplamente rejeitado e ecoou durante o Living 2008, encontro que reuniu mais de 300 PVHA de 88 países do mundo.

Aliás, os assuntos que permearam o tema principal “Acesso Universal Já!” também apresentaram resultados de um projeto-piloto desenvolvido por uma universidade sobre estratégias de Redução de Danos (RD) para usuários de drogas injetáveis (NY) em Nova York. Nos Estados Unidos, as estratégias de RD são proibidas e apenas são desenvolvidas por universidades ou fundações em nível experimental. O trabalho, apresentado pela Dra. Adeeba Kamarulzaman, da Universidade da Malaya, Kuala Lumpur, Malásia, informa que a incidência de infecções pelo HIV na população testada caiu 31%, mas que o índice pode ser maior, devido às múltiplas vulnerabilidades (tais como homens ter relações sexuais com outros homens, a questão da descendência africana e a latinidade).

Porém, como disse Julio Montaner, novo presidente da Sociedade Internacional de AIDS (IAS, na sigla em inglês) a palavra-chave que sai/fica desta conferência é combinação: “as estratégias combinadas de prevenção para diminuir a transmissão do HIV; a combinação da terapia anti-retroviral para reduzir dramaticamente a morbidade e a mortalidade entre as pessoas infectadas; a combinação da terapia anti-retroviral para reduzir a carga viral da comunidade como um dispositivo automático de entrada (DAE) à prevenção do HIV; estratégias combinadas para realçar o teste do HIV; estratégias de combinação para reduzir a pobreza e a discriminação”.

A quantas cargas virais de HIV pode ser submetida uma mulher que usará, em cerca de cinco anos, microbicidas à base de tenofovir? A circuncisão masculina pode reduzir efetivamente os riscos de transmissão do HIV em países cuja incidência de HIV é infinitamente inferior a países da África que fica abaixo do deserto do Saara? (Tais como o Brasil, que tem incidência de 0,5% da população?) Falar de pré e pós-profilaxia à infecção pelo HIV não seria uma forma de os laboratórios aposentarem o preservativo e incentivarem o sexo sem preservativo, conhecido entre gays e homens que fazem sexo com outros homens por bareback? Talvez, e não mais que talvez estas e outras perguntas sejam respondidas apenas em 2010, na conferência de Viena.

Manifestações
Houve manifestações todos os dias. A sociedade civil brasileira não ficou de fora: subiu ao palco da quarta sessão plenária para reivindicar o acesso universal e a quebra de patentes dos medicamentos anti-retrovirais. Na sessão plenária final, um grupo de mexicanos subiu ao palco para reivindicar moradia para os mexicanos vivendo com HIV/AIDS. Por conta do desaparecimento da ministra da Saúde da França, ativistas franceses caminharam da Aldeia Global até a sala de imprensa perguntando “onde está a França?”, inclusive pela participação quase invisível do país na conferência.

A manifestação brasileira que antecedeu a mesa na qual Mariângela Simão, diretora do Programa Nacional de DST/AIDS falou sobre o acesso universal no Brasil e sobre o impacto financeiro do licenciamento compulsório do efavirenz, emocionou gestores do país que assistiram o manifesto.

Outras manifestações foram realizadas em frente aos estandes de laboratórios. Uma manifestação tocante, que pedia fórmulas para bebês e crianças, espalhou brinquedos ao redor do estande da Merck.

Networking
Uma das coisas mais deliciosas e importantes de uma conferência é conhecer pessoas, trocar cartões, estabelecer contatos. De um desses contatos, com um espanhol que vive com HIV na Austrália, ouvi que uma das coisas mais maravilhosas do Brasil nos últimos tempos foi ter recusado os vultuosos recursos da USAID (agência financiadora do Congresso norte-americano), por conta de seus editais de financiamento no Brasil não permitirem o fomento à organização de prostitutas nem a troca de seringas para usuários de drogas injetáveis.

O ativista espanhol radicado na Austrália disse claramente que as PVHA brasileiras podem contar com o apoio das PVHA australianas, pois, além de pertencermos ao mesmo hemisfério sul, somos, nós brasileiros, muito admirados pelos australianos.

Fizemos contato com PVHA de quase todos os países do mundo. E de todas essas PVHA, na medida do possível da comunicação estabelecida, pudemos observar a grande admiração pela resposta ao HIV/AIDS construída no Brasil.

Decepção
Ainda que poucos brasileiros ficassem decepcionados com a visibilidade brasileira na 17ª Conferência Internacional de AIDS realizada no México, a primeira ocorrida na América Latina, tivemos participação importante em diversas sessões plenárias. Fomos citados pelo ex-presidente norte-americano Bill Clinton, que se referiu ao Brasil como fonte de inspiração de seu trabalho na luta contra a AIDS.

Decepcionante mesmo foi ver uma liderança brasileira adentrando todos os dias à sala exclusiva para PVHA, tal qual aconteceu em Toronto, apenas para aproveitar da comida disponibilizada gratuitamente às pessoas infectadas pelo HIV/AIDS. Esperamos que o fato não se repita em Viena.

Viajei à Cidade do México para o Living 2008 a convite da Global Network People Living with HIV/AIDS e UNAIDS, e para a 17ª Conferência Internacional de AIDS com recursos disponibilizados à RNP+ SP pelo Programa de DST/AIDS da Secretaria da Saúde de São Paulo.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Campanha portuguesa incentiva teste de HIV

Portugal está veiculando dois novos filmes produzidos pela Monomito Argumentistas para o Alto Comissariado da Saúde de Portugal, o equivalente ao nosso Ministério da Saúde. Os filmes fazem parte da campanha de incentivo à testagem do HIV.

No spot 1, abaixo, um anjo anda pela rua assediando mulheres bonitas. Cavalheiro e sedutor, bloqueia a porta do elevador para uma bela mulher entrar. Quando a porta do elevador se abre novamente, as penas das asas de anjo voam e a mulher se arruma. Em seguida, o anjo, masculino, chega em casa, onde beija a mulher e os filhos. No momento do beijo, uma frase pergunta ao telespectador: “ainda acredita que os anjos não têm sexo? Faça o teste VIH/sida”.



No outro spot, também abaixo, o mesmo anjo chega a um teatro, onde um casal de idosos assiste a uma ópera. O anjo fala alguma coisa ao ouvido da senhora, que vai atrás do anjo. Quando volta, ela tira uma pena da boca. Novamente a pergunta: “ainda acredita que os anjos não têm sexo? Faça o teste VIH/sida”.



Em um dos comentários do You Tube alguém disse que não gostou do spot por causa da “mensagem machista associada ao assédio” (quando o anjo dá uma beliscada nas nádegas da primeira mulher por ele avistada e desejada). Mas os filmes são bons, na minha opinião, simplesmente porque dirigem a campanha de incentivo do teste exatamente a quem precisa: homens casados, mulheres jovens, solteiras, casadas e idosas. E diz, apenas com imagens, o que tenho falado há algum tempo: quem vê amor não vê AIDS.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Campanha do São João da PB respeita o povo

O Estado da Paraíba orgulha-se de festejar em Campina Grande, maior cidade do interior nordestino brasileiro, o “Maior São João do Mundo”. A gerência de DST/AIDS paraibana acredita na mensagem da comunicação de massa; corrobora com a opinião que as campanhas de prevenção têm de ser regionalizadas e continuadas, e o vídeo “Sem camisinha não faça, sem camisinha não queira” é um bom exemplo.

Lançada no dia dos namorados, a campanha foi elaborada em preto e branco a partir das xilogravuras da popular literatura de cordel nordestina. Além do vídeo, a mensagem de promoção do sexo seguro foi acompanhada de 50 mil folhetos de cordel e 50 mil bandeirolas, distribuídas nas principais cidades que festejaram o São João.



No cordel, de autoria do poeta Oliveira de Panelas, um dos mais reconhecidos cordelistas do país, dicas de redução de danos para o consumo de álcool, a promoção do uso do preservativo visando a prevenção das DST/HIV/AIDS e da gravidez não planejada.

Para o secretário de saúde da Paraíba, Geraldo Almeida, a campanha teve lançamento no dia dos namorados “por ser uma data simbólica e estratégica no calendário junino para se promover a saúde sexual e reprodutiva”. Para mim, a campanha traduz o respeito dos governantes eleitos pelo seu povo.

PS: Faltou o exemplo de continuidade das campanhas paraibanas. Disponibilizei outras duas, ambas de 2008 no You Tube: Brinque a Micarande com responsa e Carnaval com responsa.

domingo, 22 de junho de 2008

Saudaids no VII Congresso de Prevenção

Nesta sexta-feira (27), apresento este blog no VII Congresso Brasileiro de Prevenção das DST/AIDS, que será realizado de 25 a 28 de junho em Florianópolis (SC). Sob o título de “Blogosfera PositHIVa: uma experiência em rede”, submeti em março à comissão de seleção do Congresso a experiência deste blog e de como ele foi adaptado ao que é hoje. Após o evento, usarei o banner de acesso colocado na barra lateral direita como selo de participação.

Cadastrado em quatro agregadores de blogs, inclusive o mundialmente famoso Technorati, há meses este Saúde e AIDS ganhou a medalha de ouro na categoria Saúde do Yoomp site agregador tão novo quanto o blog. O cadastro nos agregadores é nosso principal método de divulgação. O outro é criar e receber links de blogs de pessoas vivendo com HIV/AIDS (PVHA), cujos links também são encontrados na coluna lateral direita sob o título de “Blogosfera PositHIVa”.


Este blog é PVHA owned & operated, ou seja, é criado e mantido por uma pessoa vivendo com HIV/AIDS. Aqui, opinamos sobre as campanhas de prevenção das DST/AIDS de todo o mundo, e temos começado a opinar também sobre as notícias publicadas a respeito do impacto mundial da epidemia. Além disso, temos tentado contar um pouco de nossa história vivendo com HIV e AIDS, indicar livros, e trazer um pouco de informação qualificada sobre o tema.

Pena que nem tod@s @s noss@s parceir@s de Blogosfera PositHIVa têm regularidade de publicação. Este blog mesmo já teve regularidade maior; felizmente, outras prioridades nos são colocadas mais emergencialmente.

Além da apresentação do blog, fomos convidados para a mesa redonda “Políticas sociais para PVHA no contexto atual”, na qual falaremos sobre Desafios do viver com HIV/Aids e necessidades das PVHA, também no dia 27.

Antecipadamente, gostaria de agradecer pela oportunidade da apresentação. Também quero agradecer @os mais de 2 mil internautas que aqui leram alguns de nossos posts. Agradeço também às minhas maiores incentivadoras (em ordem alfabética): Andrea, Cristina, Naíme e Wildney. Obrigado.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Duas faces de uma notícia

Divulgada segunda-feira (02), a notícia dizia que 3 milhões de pessoas vivendo com HIV/Aids (PVHA) em todo o mundo faziam uso de drogas anti-Aids em 2007. E que cerca de 1 milhão de pessoas iniciaram o tratamento no ano passado.

No dia seguinte, a Folha de S.Paulo deu nota na qual destacava que o Brasil tratou 80% das PVHA. Em O Estado de São Paulo: “Quase 70% dos soropositivos não têm acesso ao tratamento”. O Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, afirmava: “Brasil segue como exemplo no tratamento da Aids”. Demais órgãos da mídia foram na mesma direção. Destacamos a manchete da Veja On-line: “AIDS: 70% não têm tratamento”.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), autores do informe, salientaram no documento que no final de 2007 aproximadamente 31% das PVHA que necessitavam da terapia antiretroviral (TAR) tinham acesso aos medicamentos. O que significa que dos 9,7 milhões de PVHA, faltam 6,7 milhões de acessos em todo o planeta.

A AIDS tem, paulatinamente, saído da agenda mundial de prioridades. Não erroneamente as questões do meio ambiente e dos alimentos têm tomado a pauta das discussões. Talvez tenhamos de voltar a escrever AIDS ao invés de aids, apenas para sugerir sua dimensão. Fica claro que o aumento no acesso à TAR se perde nos milhões de pessoas que não têm acesso ao medicamento.

terça-feira, 20 de maio de 2008

HIV, 25 anos depois

“Gostaria de festejar com vocês o fim da Aids, ao invés dos 25 anos do descobrimento do vírus.”
Luc Montagnier, co-descobridor do vírus da imunodeficiência humana (HIV), ontem, no Instituto Pasteur, em Paris. Em 20 de maio de 1983, a revista “Science” publicava o artigo do isolamento do vírus, ainda sob a denominação de LAV.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Portugal dá tom dramático à campanha de aids

Em outubro do ano passado, os cinemas e a TV portuguesa exibiram o filme “5 razões para não usar preservativo”. Escrito, produzido e realizado pela Monomito Argumentistas para a campanha de uso do preservativo do Alto Comissariado da Saúde de Portugal, o roteiro coloca uma boa dose de realismo para sensibilizar a população para o uso da camisinha.



As razões para o não uso do preservativo: corta o momento, tira o prazer, é desconfortável, é difícil de colocar e reduz a sensibilidade, são colocadas com cenas que fazem analogia às razões. O momento é o da paixão de um casal que se entrega ao desejo depois de uma romântica fondue de chocolate com vinho.

O desconforto é associado ao momento em que uma jovem mulher recebe o diagnóstico positivo para o HIV. A dificuldade de colocar é associada àquela pela qual passam muitas das pessoas vivendo com HIV e aids (PVHA) na hora de tomar o medicamento.

Duas cenas ficaram soltas: a associação da coleta de sangue ao suposto desprazer por usar o preservativo e a que o ator Bruno Nogueira interpreta um doente de aids à beira da morte, cheio de sarcomas espalhados pelo corpo, associada à redução da sensibilidade.

A maioria dos 54 comentários sobre o filme, na página da Monomito no You Tube, elogiam a produção pela sensibilidade, violência e realismo, basicamente. Ao final, o filme pede ao telespectador que pense duas vezes, que se aventure e use o preservativo.

Apesar do tom dramático que a música dá ao filme, minhas restrições vão apenas para as cenas já descritas. Não que seja impossível encontrar, nos dias de hoje, um doente de aids à beira da morte no estado mostrado, mas é difícil. Essa não é mais a cara da aids. Mas os portugueses foram sensibilizados.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Da Capadócia, salve Jorge!

“Jorge sentou praça na cavalaria
eu estou feliz porque eu também sou da sua companhia
eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
para que meus inimigos tenham mãos e não me toquem
para que meus inimigos tenham pés e não me alcancem
para que meus inimigos tenham olhos, e não me vejam
e nem mesmo um pensamento eles possam ter para me fazerem mal
armas de fogo, o meu corpo não alcançarão
facas e espadas se quebrem, sem o meu corpo tocar
cordas e correntes se arrebentem, sem o meu corpo amarrar
pois eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Jorge é da Capadócia. Salve Jorge!”
(Jorge de Capadócia, Jorge Ben)

free music


terça-feira, 22 de abril de 2008

As tribos que a Folha de S.Paulo não mostrou

A Folha de S. Paulo publicou ontem reportagem sobre uma comunidade para portadores de doenças. Mas, Patients like me não é a única comunidade que reúne pacientes de patologias.

Em Patients like me (pacientes como eu), a comunidade de pessoas vivendo com HIV/Aids (PVHA) tem 682 integrantes. Na página principal, as listas dos medicamentos mais tomados (Atripla, Truvada e Ritonavir) e a dos sintomas mais observados (fadiga, depressão e ansiedade). Na página de cada paciente, foto, ano de infecção, gráfico com o acompanhamento do CD4 e carga viral, as drogas prescritas, os primeiros sintomas, entre outros gráficos. Apenas quatro brasileiros estão registrados na comunidade, mas seus perfis não estão disponíveis.

A HIV/Aids Tribe (HIV/Aids Tribo) não traz gráficos, medicamentos nem lista de sintomas, mas tem galeria de fotos, amigos, grupos, fóruns e jogos on-line. A Webtribes, empresa responsável pela iniciativa, reúne comunidades para usuários de drogas, depressivos e ansiosos, separadamente. “Nós acreditamos que indivíduos se empoderam para se ajudar e aos outros quando sentem que são parte de algo maior”, afirma.

A Tribo, que é como seus integrantes chamam a comunidade, conta com mais de 3 mil pessoas cadastradas de todo o mundo. O portal tem sala de bate-papo, a possibilidade de mudar a cor do fundo do perfil, além de incluir lista de músicas, blogs, enquetes, lista de eventos e jogos. Na tribo há 19 brasileiros (tô lá!), não necessariamente PVHA porque a comunidade é para pessoas afetadas e infectadas. Patients like me e HIV/Aids Tribe não substituem médicos e os demais profissionais de saúde, mas são espaços de socialização interessantes da globalizada sociedade da informação.

No Brasil, o portal da Rede Nacional de Pessoas vivendo com HIV e Aids (RNP+) também tem sala de bate-papo. Mas a RNP+ tem tom mais político. Além de reproduzir diariamente as notícias sobre aids publicadas em português, eventualmente traz artigos de PVHA e entrevistas com ativistas da causa no Brasil. E tem nos documentos de seminários, nas atas das reuniões de suas representações e seu colegiado nacional, sua referência mais importante.

Além disso, estas Saudaids reúne blogs de PVHA brasileiras. É só clicar em Blogosfera PositHIVa.

domingo, 13 de abril de 2008

Campanhas de aids: alarmismo ou realidade?

Na semana passada teve início a IV Mostra de Cinema e Aids e a I Mostra de Filmes Publicitários e Aids. Organizada pelo Grupo Pela Vidda – SP, a mostra está em cartaz na sala 5 do Espaço Unibanco de Cinema, em São Paulo. Com uma série de filmes inéditos no Brasil, a mostra provoca uma reflexão a cerca das campanhas publicitárias produzidas no país.

Há alguns anos, o peso da espera pelo resultado de um teste anti-HIV foi tema de uma das campanhas produzidas pelo Ministério da Saúde. Na peça, um rapaz carrega um piano de cauda. Em outra campanha polêmica, a cantora Kelly Key comprava preservativos em uma farmácia. Os dois filmes foram rechaçados pela sociedade civil organizada que luta contra a aids no Brasil.

Somos um dos poucos países do mundo que produzem campanhas light de prevenção à aids. Apesar de elogiada por alguns, a campanha francesa que mostramos aqui, da ONG francesa Sidaction é um exemplo de como a aids é mostrada em outros países. O filme mostra uma orgia dentro de uma ampulheta. Nela, as pessoas fazem sexo desprotegido e corpos caem desfalecidos da parte de cima do marcador de tempo artesanal.

A sociedade civil brasileira é contra campanhas alarmistas. É que a grande maioria das pessoas que atuam na luta contra a aids no Brasil é da geração que viu Cazuza cadavérico, exposto na capa da Veja.

Está disponível no You Tube, uma campanha que mostra o flagelo de uma droga muito usada nas baladas norte-americanas. Tal como o crack, o Crystal Meth acaba com a pessoa em pouco tempo. Algumas dessas campanhas mostram o antes e o depois do uso da droga. Algumas dessas campanhas são de organizações da sociedade civil norte-americana que apelam para o tom alarmista na tentativa de conscientizar as pessoas não apenas sobre os efeitos físicos da droga, mas de seus efeitos psicológicos e do risco a que essas pessoas colocam suas vidas.

A professora de comunicação Wildney Feres Contrera disse na abertura da IV Mostra de Cinema e Aids que as campanhas têm de ser produzidas para a população, não para ativistas da luta contra a aids. Nesse sentido, o foco deve ser dirigido às pessoas que não viram o flagelo da aids anterior ao coquetel de medicamentos. Principalmente porque a maioria delas não conhece os efeitos físicos dos antiretrovirais.

E você, é a favor de campanhas mais light, ou de campanhas que mostram a realidade da aids? Responda a enquete ao lado ou dê sua opinião nos comentários abaixo.

A dengue (cada vez) mais perto de SP

A caixa d´água da foto está localizada nos fundos de uma fábrica de sapatos em Santa Cecília, bairro da região central de São Paulo que no ano passado teve o desonroso segundo lugar em casos de dengue na cidade, perdendo apenas para a Bela Vista.

Situada a menos de 100 metros em linha reta da Santa Casa, os vizinhos já reclamaram às autoridades incompetentes por três vezes. A primeira, em 01 de maio de 2007 (solicitação n° 6709985). Dias depois, uma equipe cedeu ao proprietário da fábrica uma tela e uma tampa quadrada para uma caixa retangular.

Na segunda vez, em 10 de fevereiro de 2008 (solicitação n° 7443671), o órgão irresponsável telefonou ao denunciante defendendo o proprietário da fábrica, cuja alegação é de que a caixa d´água está furada e não corre risco de acúmulo de água. A terceira vez foi em 27 de março de 2008, feita pessoalmente na Praça de Atendimento da Prefeitura de São Paulo (n° 7555246). Apesar de furada, quando chove muito, a água demora até três dias para escoar.

A denúncia acima foi feita por escrito para os jornais O Globo e O Estado de São Paulo. Porém, assim como acontece com a aids, a dengue está perto do outro, nunca da gente mesmo.

sábado, 5 de abril de 2008

Suíça produz campanha polêmica de prevenção à aids

As campanhas suíças de prevenção à aids ficaram famosas pelas polêmicas que vêm causando desde 1985, quando foram produzidas pela primeira vez. Na semana passada, novos outdoors começaram a ser vistos pelas ruas do país. Produzida para conscientizar as pessoas que saem de férias, executiv@s em viagem de negócios e baladeir@s compulsiv@s, a campanha agrega senso de humor, lirismo e atitude.

astronautas gays fazem sexo na lua

Em um deles, um casal gay de astronautas faz sexo na lua. No outro, um pesquisador heterossexual faz sexo com sua assistente dentro de uma caverna. Em outro, um casal de mergulhadores, também heterossexual, transa no fundo do mar. E, no último cartaz, Tarzan faz sexo com Jane no meio da selva.

A iniciativa do governo suíço em parceria com a Aids-Hilfe foi lançada na semana passada e está provocando a já tradicional polêmica. Segundo a versão em português da Swiss Info, o jurista Sigmund Pugatsch, de Zurique, classificou os cartazes como “obscenos”. Para ele, os outdoors são “representações que transgridem os limites da moral e da ética”, embora compreenda a intenção explícita da apelação.

Já no filme publicitário produzido para a TV, em 2006, duas mulheres lutam esgrima sem proteção, motociclistas correm sem capacete e jogadores de hóquei no gelo disputam um jogo sem a devida proteção. Todos os esportistas do comercial são exibidos nus. Não se vê nada além dos seios e parte das nádegas dos homens. A mensagem fica clara no final da peça, quando a legenda diz “no action without protection”, algo como “não faça nada sem proteção”.

Lá vem o Brasil, descendo a ladeira...
Uma das propostas da campanha brasileira para o Carnaval deste ano, não aprovada, deveria mostrar a cópula de animais e, no final, diria que no mundo animal, o uso da camisinha era dispensável, já no mundo humano, o hábito de usar preservativos era uma lição de vida. Infelizmente a campanha não foi aprovada por assessores do Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde.

se abrir os braços vai parecer...

Na atual campanha de prevenção à aids entre gays, travestis e homens que fazem sexo com outros homens, só faltou colocar o rapaz nu de braços abertos, uma referência pra lá de clara a uma certa crucificação ocorrida, segundo a lenda, há mais de dois mil anos. Infelizmente, por aqui, a polêmica ficou com o piano, o Bráulio e a Kelly Key.

Senado rejeita MP que aloca recursos para campanhas da aids e da dengue

Na quinta-feira (03/04), a Câmara dos Deputados recebeu o ofício n° 434/08, do Senado Federal. O ofício, da Presidência do Senado, comunica a rejeição, por mérito, da Medida Provisória n° 400/2007. Como informado nestas Saudaids em fevereiro, as campanhas até já saíram do ar. O mais engraçado é a ata da sessão plenária do Senado, de 1° de abril (só podia ser!!!), transcrita a seguir:

“01/04/2008 ATA-PLEN - SUBSECRETARIA DE ATA – PLENÁRIO
Situação: REJEITADA
6ª Sessão Deliberativa - Anunciada a matéria, é proferido pelo Senador Romero Jucá, Relator Revisor designado, o Parecer nº 216, de 2008-PLEN, concluindo, em análise preliminar, pelo atendimento dos pressupostos constitucionais de relevância e urgência e pela adequação financeira e orçamentária. Usam da palavra os Senadores Arthur Virgílio, José Agripino, Ideli Salvatti, Heráclito Fortes e Osmar Dias. Aprovados os pressupostos constitucionais de relevância e urgência e pela adequação financeira e orçamentária. A seguir, o Relator Revisor, Senador Romero Jucá se manifesta contrariamente quanto ao mérito da matéria. Usam da palavra os Senadores Arthur Virgílio, Cristovam Buarque, José Agripino, Flexa Ribeiro, Romero Jucá (Relator Revisor), Mário Couto, Marcelo Crivella, José Sarney e Epitácio Cafeteira. Rejeitada a medida provisória, ficando prejudicadas as emendas a ela oferecidas. À SCLCN, com vistas a Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização.”

O que significa isso? Significa que o senador Romero Jucá, líder do governo no Senado, forçou a rejeição da matéria. O pior é que o excelentíssimo parlamentar do PMDB está certo. A MP 400/2007 alocaria recursos para as campanhas de prevenção à aids e à dengue mas, também, recursos para a TV Brasil.

Ou seja, para constituir o capital inicial da TV pública, o governo usou as epidemias da aids e da dengue para também alocar recursos para a TV Brasil. E ainda querem um terceiro mandato para este governo. A rejeição foi publicada no Diário Oficial da União na sexta-feira (04/04), seção 1, página 1.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Respostas a dúvidas sobre a aids

Internautas procuram coisas e coisas. Algumas pra lá de esdrúxulas, outras fazem o maior sentido. Tenho analisado como as pessoas chegam a estas Saudaids e aqui vão algumas respostas ao que é buscado sobre aids na web.

Pessoas com HIV podem prestar concursos públicos?
Sim. Não há nada que impeça uma pessoa com HIV ou aids de prestar um concurso público.


Artistas com aids no Brasil
Sabemos que Renato Russo, Cazuza, Lauro Corona e Sandra Bréa, por exemplo, morreram de complicações ocasionadas pela aids. Mas, não estou aqui pra dizer se fulano ou sicrana tem ou não o HIV. O objetivo destas Saudaids é difundir opiniões e informações sobre questões relativas a campanhas educativas sobre aids e reunir pessoas vivendo com HIV e aids da blogosfera.


Quantos anos vive uma pessoa com HIV/aids?
Tive um namorado que morreu de aids em 1984. Meu exame reagente só foi confirmado em 1988. Portanto, vivo há pelo menos 20 anos com HIV e 16 anos com aids. Conheço pessoas que estão vivas há mais tempo do que eu. As poucas informações que tenho me levam a afirmar que tudo depende de pessoa para pessoa, de como o emocional e o psíquico aceitam a infecção e a doença, de como o organismo aceita os antiretrovirais e do quanto a pessoa aguenta viver um tempo com os efeitos colaterais. Atualizado em 22/01/10: Entretanto, há cerca de dois meses, foi divulgado que atualmente a expectativa de vida de uma pessoa com HIV é de 35 anos depois da infecção.


Por que as pessoas com HIV não devem ser chamadas de aidéticos?
Porque este é um termo que carrega preconceito, estigma e discriminação. Em países de língua portuguesa em que a sigla adotada é a SIDA, as pessoas até são chamadas de sidéticas. Nos países de língua inglesa, médicos ainda chamam seus pacientes de aidéticos. O politicamente correto é dizer que a pessoa tem HIV, é soropositiva, vive com aids ou é doente de aids. Só chame alguém de aidético se quiser ofender.


Qual a diferença entre uma pessoa com HIV e uma com aids?
A diferença está nos níveis de células T4 no sangue. Se não me engano, o Brasil recomenda aos médicos que uma pessoa com células T4 menor que 200ml³ comece a fazer uso dos medicamentos antiretrovirais. As células T4 são as que controlam, por assim dizer, nosso nível de imunidade. Quando chegam a níveis menores que 200ml³, estamos sujeitos a contrair diversas doenças e sermos atacados pela síndrome de imunodeficiência adquirida, que no Brasil chamamos de aids. A partir do momento em que os serviços de saúde começam a disponibilizar as drogas anti-aids, os médicos são obrigados a notificar a pessoa com HIV, que passa a ser denominada pessoa com aids.


Qual a diferença entre AIDS, aids ou Aids?
A rigor, não existe diferença nenhuma. A questão está na importância que damos à palavra em nossas vidas. Jornalisticamente, o correto seria escrever Aids e não AIDS, pois alguns manuais de redação pregam que toda sigla com mais de quatro letras deve ser escrita com a primeira em maiúscula e as demais em minúsculas. Outra corrente defende que, como a sigla é usada para definir uma doença, tal como câncer, tuberculose ou hanseníase, deve-se escrevê-la com minúsculas. Escrevo “aids” porque o valor que ela tem pra minha vida é minúsculo.


Atualizado em 11/03/2013: Não respondo mais a dúvidas. NA DÚVIDA, FAÇA O TESTE DE AIDS. LIGUE TAMBÉM PARA 0800 61 1997. A ligação é gratuita.

Veja também: Dúvida sobre AIDS tem resposta nas redes sociais

terça-feira, 25 de março de 2008

Abertas inscrições para o EDUCAIDS, maior encontro brasileiro em educação preventiva

Um debate inédito sobre as relações entre cultura, preservação da natureza e prevenção — reunirá o médico Eduardo Jorge, secretário do Meio Ambiente de São Paulo, e o biólogo e ambientalista Litz Vieira, diretor do Jardim Botânico do Rio — vai marcar o lançamento das bases de uma nova política de Educação Preventiva, vinculando a prevenção das DST, Aids e outras doenças infecto-contagiosas à Educação Ambiental durante o 12° EDUCAIDS — Preservar o mundo preservando o homem!

“A idéia de preservar o homem por meio da Educação, da Cultura e da Saúde está relacionada ao aumento das doenças infecto-contagiosas causadas pelo impacto ambiental de um desenvolvimento econômico que privilegia o lucro em detrimento da sustentabilidade”, assinala Teresinha Pinto, coordenadora do evento, para justificar o tema desta edição do Encontro Nacional de Educadores na Prevenção das DST/Aids e Drogas — 12° EDUCAIDS — Preservar o mundo preservando o homem!, pioneiro no Brasil a tratar do tema com periodicidade anual. “Mas também considera que a melhoria das condições de vida das pessoas, em contato com a natureza, é capaz de reduzir as suas vulnerabilidades às DST, Aids e outras doenças”, salienta.

Já no primeiro dia do 12° EDUCAIDS, especialistas dos ministérios da Educação e da Saúde farão um balanço do programa Saúde e Prevenção nas Escolas. O crescimento da epidemia entre as jovens do sexo feminino será tema do colóquio Gênero e Cultura no Brasil, com os professores Mary Del Priori e Luiz Mott. A discussão trará um novo enfoque sobre a questão da gravidez não-planejada, envolvendo a conscientização dos homens sobre a paternidade responsável.

A programação desta 12ª edição do EDUCAIDS foi pensada visando promover a integração entre educadores e profissionais da saúde, com tópicos como “marco legal: Saúde e Educação da criança e do adolescente”, “drogas e violência: tropa da elite?”, “meio ambiente e prevenção de DST e Aids”, entre outros temas transversais e correlatos.

O EDUCAIDS
— Promovido desde 1997 pela Associação para Prevenção e Tratamento da Aids (APTA), a realização anual do EDUCAIDS proporcionou algumas conquistas para educadores preocupados com a prevenção da Aids, das DST e do uso indevido de drogas, tais como a criação da Rede Brasileira de Educação Preventiva, que promove o intercâmbio de experiências e informações sobre Educação Preventiva, desde 2000; a elaboração das diretrizes do Programa Saúde e Prevenção nas Escolas (SPE), desenvolvido em conjunto pelos ministérios da Educação e da Saúde, em 2003; a inserção da Prevenção na Educação para portadores de necessidades especiais, em 2005; a inserção em rede escolar pública de 432 crianças vivendo com HIV e aids, e o Jornal do EDUCAIDS (vencedor do Prêmio ABERJE Brasil 2005) com tiragem de 4500 exemplares, distribuídos a educadores e profissionais de saúde do Brasil, Angola e de Moçambique.

O 12° EDUCAIDS será realizado entre os dias 11 e 14 de junho de 2008, no Centro de Convenções Rebouças (Av. Dr. Enéas Carvalho Aguiar, 23), em São Paulo, e deve reunir cerca de 1200 participantes.

As inscrições
podem ser efetuadas no site da APTA, onde também pode ser acessada a programação preliminar, ou pelos telefones (11) 3467-9386 / 3467-9389 (de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h), e custam R$ 180 até 30/04, ou R$ 230 após essa data. Associados Apeoesp e Sinpeem pagam R$ 180. As inscrições para trabalhos serão aceitas até 11 de maio.

Financiamento:
Programa Nacional de DST e AIDS — Ministério da Saúde / Programa Estadual de DST e AIDS da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo / Programa Municipal de DST e Aids de São Paulo / Abbott Brasil / Bristol-Myers Squibb / Merck Sharp & Dohme / Pfizer Brasil / Roche Brasil / Apoio Institucional: UNESCO, UNICEF, Ministério da Educação.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Falar sobre aids com crianças?

A resposta a esta pergunta é dada por Brian Hennessey e Radia Daoussi, defensores dos direitos humanos nos Estados Unidos. Em 2006, eles fizeram suas malas e a das filhas e foram para a XVI Conferência Internacional de Aids, realizada em Toronto, no Canadá.

Com uma câmera na mão e sem nenhuma idéia na cabeça, o casal ficou espantado com o interesse das meninas pelas obras da artista plástica brasileira Adriana Bertini, que expunha vestidos confeccionados com camisinhas tingidas, rejeitadas pelo controle de qualidade das indústrias de preservativos.

A partir do interesse das filhas, que na época tinham 4 e 6 anos, os ativistas tiveram a idéia, agora transformada em filme, de produzir um documentário no qual as meninas fazem perguntas clássicas a cientistas e ativistas da luta contra a aids. Mas, se as perguntas podem parecer comuns, tais como o que é HIV, como se pega aids, as respostas é que fazem toda a diferença, pois exigem que especialistas “traduzam” seus vocabulários a uma linguagem apropriada para crianças.

Apresentado em festivais de cinema e elogiado pela crítica especializada, “Please Talk to Kids about Aids” (Por favor fale com as crianças sobre aids) ganhou o prêmio de melhor curta documentário do Great Lakes Film Festival e o prêmio de melhor serviço público e comunitário do Everglades da África do Sul, ambos no ano passado. Com 26 minutos, o filme pode ser baixado gratuitamente no site linkado acima. Pena que ainda não tem legendas em português. Mas já é um começo.

terça-feira, 18 de março de 2008

Apenas uma frase?

“Quando eu pensar que aprendi a viver, terei aprendido a morrer.”
Leonardo da Vinci (1452 – 1519)


Atualizado em 26/11/2009
A frase:
Viver com Aids é possível.
Com o preconceito não.

Slogan 2009 da campanha do Ministério da Saúde em alusão ao Dia Mundial de Luta contra a Aids, comemorado desde 1988 no dia 1º de Dezembro.


Veja também: Frases sobre AIDS e A frase.

C&S e o SUS

“Comunicação e Saúde” (C&S) é um dos livros que minha mestra Inesita Araújo escreveu em parceria com a minha também mestra Janine Cardoso. Na visão das autoras, o campo da C&S tem como “ponto inicial a crítica produzida por profissionais de serviços de saúde e instituições de ensino e pesquisa”.

Para Araújo e Cardoso, o campo da C&S engloba, além da comunicação e da saúde, a ciência e tecnologia, políticas públicas, informação, educação popular e movimentos sociais. Como elas escrevem, o livro não parte de “uma perspectiva que vê a comunicação como um conjunto de instrumentos a serviço dos objetivos da saúde”, mas de um ponto de vista bourdiano no qual “os limites dos campos são indefinidos e porosos, porque são demarcados pelos efeitos que produzem em conjunturas específicas”.

Neste pequeno livro, além da definição do campo da C&S, as autoras trazem reflexões de como a Comunicação interage com os princípios doutrinários (universalidade, eqüidade e integralidade) e organizativos (descentralização, hierarquização e participação) do Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo afirmam as autoras, não podemos “tratar a comunicação no campo da saúde coletiva como se fosse numa empresa comercial”. Ou seja, não podemos “vender” a C&S como se fosse uma nova marca de cerveja ou de um novo modelo de automóvel.

A C&S parte do princípio que não podemos dissociar a comunicação da noção de direito, pois é dirigida a cidadãos. Nesta perspectiva, “objetiva o aperfeiçoamento de um sistema público de saúde em todas as suas dimensões e a participação efetiva das pessoas na construção dessa possibilidade”.

Publicado pela Editora Fiocruz para a coleção Temas em Saúde, “Comunicação e Saúde” custa apenas R$ 15 e pode ser encontrado nas livrarias ou pela Internet.

sábado, 15 de março de 2008

Orkut exclui comunidade intolerante

A comunidade “nojo de quem tem AIDS”, hospedada pelo Orkut, foi retirada do ar, segundo informações da Agência de Notícias da Aids (ANA). Com muito mais visibilidade que estas Saudaids, a ANA fez a denúncia na tarde de quarta-feira. A reportagem falou com a ONG Safer Net, especializada em crimes virtuais, ouviu o Grupo de Incentivo à Vida – GIV, que informou que denunciaria a comunidade ao Ministério Público Federal e pediu uma posição do Google por meio de sua assessoria de imprensa.

Na quinta-feira, repercutiu a informação entre ativistas da luta contra a aids, que atribuíram ao provedor a responsabilidade por manter a comunidade. Sem pronunciamento algum, ontem o Google tirou a comunidade do ar. Infelizmente as outras comunidades relacionadas aqui e na ANA, não tiveram a mesma resolutividade.

E, apesar de a comunidade “João Hélio arrastou pouco” agora trazer a observação “Não há qualquer intenção em ofender a memória do garoto, essa comunidade é apenas a constatação de um fato: 7km é uma distância modesta”, a explicação não convence. É modesto o trecho que o menino foi arrastado? Quanto seria o “razoável” para sensibilizar tamanha crueldade ao banalizar a tragédia? Pena.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Orkut: paraíso da intolerância

Tenho uma amiga que é atriz. Depois de muitos anos no teatro, fez uma minissérie na TV Globo. Ligada ao grupo de teatro do Ornitorrinco, mantém, após dois filhos, um corpo escultural. Fez espetáculos nos quais ficava nua. Um dia, encontrou seu perfil no orkut bloqueado. Não adiantou dizer ao Google que as fotos que mantinha em sua página eram artísticas, de espetáculos teatrais. Em repúdio, ela saiu do orkut.

Faz uma ou duas semanas, pipocou na mídia o horror a uma comunidade chamada “Eles têm aids e nem te contam nada” ou alguma coisa parecida, que delatava pessoas que supostamente estariam infectadas pelo vírus da aids. Agora, um conhecido denuncia uma página “gentilmente oferecida” por uma tal de Sociedade Alternativa —coitado do Raul!— chamada “NOJO de quem tem AIDS!!!”, com mais de mil integrantes, todos expostos, que devem achar o máximo fazer parte dessa comunidade.

Relacionadas a essa, comunidades intituladas “João Hélio arrastou POUCO”, “sim a POLUIÇÃO no Brasil!”, “Maldito John Lennon, foi tarde!” e “Quero ajudar a pregar Jesus”. A comunidade do “nojo” é dirigida a “quem quer dar dignidade à (sic) esses seres que tanto sofrem dando-lhes um fim digno e com menos sofrimento!” e tem como premissa a seguinte máxima: “se cachorros com leishmaniose são sacrificados devido ao risco de contágio porque (sic) aidéticos também não são?”

Além de sermos chamados de “aidéticos”, termo que carrega todo o peso do estigma, do preconceito e da discriminação lançada pelo conceito de “grupo de risco”, o país deveria sacrificar-nos como a cachorros com leishmaniose.

Não deveria citar isso aqui. Afinal, a máxima “falem mal, mas falem” gera propaganda, visibilidade. Mas não dá pra agüentar. Dias antes da comunidade “Eles têm aids...” ser divulgada na mídia por sofrer investigação policial, um senhor publicou em seu blog um artigo dizendo alguma coisa como “o Estado brasileiro dá remédio pra esses aidéticos disseminarem o vírus da Aids a rodo”.

Recentemente, a comunidade científica norte-americana pediu desculpas à comunidade gay por divulgar que um vírus —ou bactéria— infinitamente mais letal que o HIV estaria infectando gays em Nova York e San Francisco. Depois, a história do bareback —que não é novidade—, o artigo desse senhor, essas comunidades. Sei não, mas está parecendo a cena da novela “Duas Caras”, na qual fundamentalistas lincham o triângulo formado por Bernardinho, Dália e Heraldo em nome de Deus.

Em breve, estaremos lastimando que em pleno século 21 tenhamos de ficar trancados em casa com medo de sermos atacados por fundamentalistas arregimentados por um site de relacionamentos.

domingo, 9 de março de 2008

45:11:29

Hoje foi o último dia. Não precisa soltar fogos, pois não vou abandonar o blog. Hoje foi o último dia do resto dos meus dias. Meu último dia com 45 anos.
Faz 20 anos. Foi em 1988 que recebi meu primeiro teste posithivo (não exatamente na véspera do meu aniversário, que ninguém merece). O resultado não foi surpresa nenhuma, pois conhecia meus antecedentes.
Coisa chata falar de morte na véspera de aniversário? Estou falando de vida. Pra quem recebeu o diagnóstico numa época em que aquele resultado significava uma sentença de morte, só tenho a comemorar. Acho que rasgaram minha sentença. Como eu rasguei aquele resultado, só posso provar que tenho HIV a partir de 1992. Se bem que o ideal seria que eu tivesse cópia do meu prontuário de 1984.
Vantagem nenhuma. Mas, como diz uma amiga que mora no meu coração, eu vivi e vivo a história dessa epidemia. E não sou um exemplo de paciente (não gosto dessa palavra). Talvez por não ser esse exemplo, tenha de ir ao cardiologista fazer alguns exames; talvez por isso meu colesterol esteja tão alto. Mas, se tem uma coisa com a qual tenho disciplina é com minha medicação. Tanto, que tomo apenas quatro comprimidos por dia. Em dois meses (janeiro e fevereiro) tomei 56 das 60 doses. Tudo na mesma sagrada hora, às nove da noite. Quase 94% de adesão. Ao contrário de muitos, adoro o barato do efavirenz. O problema é que tenho vida sedentária, fumo, e não faço exercícios.
Neste ano também completo 16 anos que comecei a tomar, em 1992, os antiretrovirais. Estava na faculdade, no meio de uma prova e uma febre súbita fez com que eu entregasse a folha em branco. Passei a noite no vaso sanitário. Foi quando tive o diagnóstico que ainda está no meu prontuário. E comecei a tomar AZT.
Naquela época, o medicamento não era distribuído na rede pública e a empresa que trabalhava pagou o medicamento por um bom tempo. Foram solidários comigo num primeiro momento, mas não perderam a oportunidade de se verem livres de mim.
Não foram nada fáceis estes 45:11:29. Mas foram alegres, tristes, cheios de realizações e de frustrações, de expectativas e de tentativas. Enfim, foram 45 anos, 11 meses e 29 dias.

(na foto, bolo de confeiteira brasileira radicada na Espanha: artesinlimites.es)

quarta-feira, 5 de março de 2008

Bareback precisa resposta contundente

Pode ser excitante ver uma cena de sexo explícito num filme pornô gay no qual os atores não usam camisinha. Mas, gays, lésbicas, bissexuais, transexuais, travestis e transgêneros (GLBT) precisam responder ao que a indústria do bareback vem promovendo no incentivo a práticas de sexo desprotegido. E a reação tem de ser contundente.
As notícias divulgadas hoje pela BBC trazem à tona uma prática que já têm adeptos no Brasil. E vem a reboque das informações difundidas na semana passada, na qual jovens estariam ingerindo antiretrovirais (ARV) antes (Época) e depois (Revista da Semana) de baladas sexuais desprotegidas.

Na Internet, centenas de sites gays distribuem gratuitamente trechos de cenas com atores fazendo sexo sem camisinha. As íntegras das cenas e até os filmes inteiros estão disponíveis on demand.

A prática do bareback, que literalmente significa cavalgar sem sela, tornou-se sinônimo de fazer sexo sem camisinha a partir da segunda metade da década de 1990. Surgida entre a comunidade gay norte-americana que não viu as vítimas da aids pré-coquetel de
ARV, virou ideologia de rebeldes sem causa.
No Brasil, o Ministério da Saúde garante que pessoas que tiveram relações desprotegidas tenham acesso aos
ARV. Mas precisa prescrição e acompanhamento médico. Essa diretriz não pode e não deve ser banalizada assim, pela irresponsabilidade de alguns poucos, sejam homo ou heterossexuais.

Posição equivocada

“A posição da Igreja Católica (a maior do Brasil, mas também apenas uma das igrejas) historicamente já mostrou-se muitas vezes equivocada, como por exemplo no caso das encíclicas em relação à proibição do uso da camisinha, a principal defesa mundial contra a Aids.”
Frase do músico Marcelo Yuka, em artigo sobre a questão das pesquisas com células-tronco embrionárias, em O Globo Online.

Grupo de risco, não!

No hospital, a mãe pergunta pelo diagnóstico do filho, recém-internado. O médico diz que o estado de saúde do paciente é grave. Ela responde que sabe que o filho é “viciado”, que “pertence ao grupo de risco”, que o médico pode falar. “Ele tem aids, não é doutor?” Sem dizer à mãe que ela precisava reavaliar os próprios conceitos, o médico responde que o rapaz tem dengue hemorrágica. A cena não aconteceu nos rincões do Brasil, mas na telinha da TV Globo. Mais precisamente na noite desta terça-feira, em “Duas Caras”, programa com altos índices de audiência.
É espantoso que um autor como Aguinaldo Silva ainda coloque em seus textos referências alusivas a conceitos já superados pela ciência. É por causa dessa história de “grupo de risco” que as pessoas têm se infectado com o HIV. A aids não é uma doença apenas de homossexuais, prostitutas, usuários de drogas e hemofílicos. A aids é uma doença de quem faz sexo sem camisinha ou que compartilha agulhas e seringas contaminadas.
Recentemente, em um seminário, parte da equipe de comunicação do Ministério da Saúde elogiou a TV Globo por inserir no “Big Brother Brasil”, tarefa didática sobre a prevenção da dengue. Agora, devia dar um puxão de orelha em toda a equipe da novela. Será que nem a Marília Gabriela tem essa informação? Tudo bem que ninguém precisa saber que os usuários de drogas foram o grupo que mais adotou as estratégias de prevenção à infecção pelo HIV. Até o “comportamento de risco”, conceito que substituiu o de “grupo de risco” já foi substituído.
Por isso, Aguinaldo Silva, da próxima vez, “grupo de risco”, não!

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Comunicação gerando dividendos

Em alusão ao Dia Internacional da Mulher, o Ministério da Saúde divulgou hoje novas peças para rádio e Internet. Em depoimentos e spots, personalidades como as cantoras Sandra de Sá e Negra Li, os artistas Nando Cunha e Isabel Fillardis, o atleta Robson Caetano, falam sobre uso do preservativo, realização do teste de HIV e de sífilis na gestação, violência contra a mulher, camisinha feminina e gravidez não-planejada. Os áudios convidam as mulheres a protagonizarem o enfrentamento da epidemia de HIV e aids no Brasil. Os artistas não receberam cachê e a iniciativa dá continuidade às campanhas do Dia Mundial 2007 e do carnaval 2008, cujo slogan foi a pergunta “qual a sua atitude na luta contra a aids?”.
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Gwyneth Paltrow gravou campanha para o escritório do UNICEF no Reino Unido para arrecadar fundos para a aids. O filme é uma dramatização de um poema do premiado escritor Simon Armitage, ainda inédito em português, narrado pela atriz. É peça de sensibilização para a campanha Born Free from HIV, algo como nascer livre do HIV. Segundo o UNICEF, a cada minuto nasce uma criança com HIV no mundo.
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E a “Annual Elton John AIDS Foundation Academy Awards”, festa pós-Oscar de Elton John, arrecadou nada menos que US$ 5,1 milhões.

Reconhecimento que incentiva

Estava fuçando no meu contador de onde vêm os leitores do blog e encontrei links do blog do portal qualsuaatitude.com.br. Fui lá conferir e encontro a primeira resenha sobre este Saudaids. Publicado hoje sob o título de “Outro ponto de vista”, o texto da Larissa conseguiu captar a espinha dorsal deste blog. Mais do que isso, a energia que permeia a intenção. Foi muito bom ler que o blog “se destaca nas produções sobre a Aids”.
Não foi sem receio que comecei a contar minha experiência pessoal misturada à comunicação sobre aids. Principalmente para interlocutores que não sabemos quem são, que não olhamos em seus olhos; que sentidos atribuirão às nossas palavras? Confesso que não é fácil, pessoalmente, mexer com emoções. Os comentários, porém, são gratificantes.
A responsabilidade também é enorme. E gostaria de poder me dedicar mais a esta iniciativa, que começou modesta e, modestamente, já ganha elogios.
Preciso agradecer também ao Tiago+, quem primeiro colocou o link do Saudaids no blog dele. E a tod@s @s leitor@s que têm passado por aqui. Obrigado pelo incentivo.

Câmara aprova R$ 30 mi para campanhas de saúde

A Câmara dos Deputados aprovou ontem a Medida Provisória (MP) n° 400/2007, que provisiona R$ 30 milhões para o Ministério da Saúde produzir campanhas de massa de prevenção à aids e à dengue. A aprovação da MP 400 poderia ser motivo de comemoração, não fossem alguns detalhes.
As campanhas já foram produzidas. No caso da aids, foram as alusivas ao Dia Mundial de luta contra a Aids 2007 e a do Carnaval 2008. Outro, é que a MP 400 também aloca R$ 20 milhões para a formação do capital da Empresa Brasileira de Comunicação, a TV Brasil. Finalmente, a MP é do final de outubro.
No frigir dos ovos, a questão nem é se as campanhas foram produzidas ou não, mas como o governo brasileiro lida com os problemas de saúde pública.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Um pouco do meu HIV (2)

Até meados da década de 1990, a infecção pelo HIV era uma rápida sentença de morte. As pessoas ficavam doentes e meses depois estavam mortas. A aids ceifava vidas como um jardineiro a aparar grama no jardim.
Naquela semana de 1984 fui umas três vezes ao serviço público de saúde que recebia pessoas do então denominado “grupo de risco” daquela doença ainda pouco conhecida chamada “peste gay”. Ao voltar pra casa de uma dessas visitas, disse a uma das minhas primas que ela tinha pouco tempo de contato comigo. Choramos muito juntos. Mas, até hoje damos algumas boas risadas quando lembramos do nosso desespero conjunto.
Naqueles anos, quando ainda não tínhamos informação suficiente sobre a doença, o estigma era muito, mas muito forte. Um dos pontos de concentração gay de São Paulo, na rua Marquês de Itu, que literalmente fervia nas noites dos finais de semana, foi simplesmente esvaziado. Não pela polícia do delegado Richetti, que expulsou homossexuais do Largo do Arouche no início mais remoto dos anos 1980, mas pelo “câncer rosa”, como também era designada a aids.
Algumas pessoas, eu inclusive, achavam que a aids era fabricada pela mídia e pelas forças conservadoras norte-americanas para, ao estigmatizar a homossexualidade, estancar um pouco da explosão sexual experimentada naqueles loucos anos. Mas não era. Nunca foi.
Devidamente trancafiados em suas casas pela falta de informação, de medicamentos e principalmente, de certezas, os próprios homossexuais inventaram uma espécie de diagnóstico para identificar as pessoas portadoras do HIV: magros morreriam, gordos viveriam. Obviamente que, com o passar dos anos, esse diagnóstico foi cientificamente refutado.
Naqueles primeiros anos, de volta a São Paulo, era muito engraçado ver a expressão assustada das pessoas ao me encontrar. Gente que sumia do mapa, como eu, era tida como morta. Uma vez, encontrei a camareira do HS que confidenciou ter rezado uma missa pela minha alma, pois a falta de notícias era o sinal irrefutável da minha morte.
Meses depois de ter colhido sangue para o exame francês que nunca tive o resultado, abandonei o serviço. Meu raciocínio dizia que, se eu iria morrer logo, deveria aproveitar a vida. Como de boemia eu estava legal, resolvi voltar a estudar.
E, novamente, vou deixar você esperando pelos próximos capítulos desse dramalhão. Até.

Alívio imediato

A Folha de S.Paulo informa que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o teste de detecção do HIV por via oral. O teste não será vendido em farmácias. Ufa, ainda bem que temos, apesar dos pesares, pessoas sérias no governo brasileiro.
Já pensou, car@ leitor@, o que seria se o teste fosse comercializado publicamente? Não gosto nada dessa pergunta que passou pela minha massinha encefálica pois, ainda que pudesse resultar em alívio imediato —cerca de 20 minutos para um resultado com 99% de confiabilidade— sua comercialização talvez provocasse algum pânico nas chancelas positivas.
E, por mais que o Ministério da Saúde informe que irá avaliar a inclusão ou não do exame no serviço público, acredito que o teste será incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS) apenas para casos de extrema urgência. Isso sim, um alívio.

Artista faz campanha, sim, informa publicitário

Recebi um e-mail de Daniel Souza, da [X]Brasil. Na mensagem, o publicitário refuta informação sobre a participação de artistas brasileiros em campanhas de saúde pública.
“Gostaria de te contradizer —pelo menos no que diz respeito à [X]Brasil— em relação à participação dos artistas em campanhas. Acho que já fizemos pelo menos 40 campanhas, sobre os mais variados assuntos, e todos os artistas/atletas/formadores de opinião que chamamos toparam. Pessoas como: Chico Buarque, Ivete Sangalo, Gabriel, O pensador, Carlinhos de Jesus, Tony Ramos, Camila Pitanga, Glória Pires, Lenine, Ney Matogrosso, Orlando Moraes, Zagallo, Parreira, Ronaldo, Kaká, Dado Dolabella, Sandy & Junior, Elke Maravilha, Isabel Fillardis, Maitê Proença, João Bosco, Dráuzio Varella, entre outros, que não estou lembrando agora de cabeça. Muitas vezes, acho que o que falta é um pouco de cara de pau para simplesmente ir lá e pedir... Cara de pau para isso, nunca me faltou...”
Não quero polemizar, mas o que escrevi foi que falta engajamento, que é bem diferente de fazer campanha pontual. Fica o registro, tanto meu quanto do Daniel.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Benefício do constrangimento

O Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), como preconiza a Lei Orgânica da Assistência Social N° 8.742/93, revisa a cada dois anos os benefícios concedidos por invalidez. Apesar da lei estar em vigor desde 1993, a revisão jamais foi realizada. A discussão parece relevante: o que fazer com as pessoas vivendo com HIV e aids (PVHA) que recebem benefícios previdenciários no Brasil?
Relatório divulgado na semana passada pelo Programa Nacional de DST e Aids do Ministério da Saúde revela que no ano de 2006 foram pagos 42,1 mil auxílios previdenciários às PVHA no Brasil, “representando uma relação de 7,4 benefícios para cada 100 pessoas em tratamento com terapia ARV” no ano. Os números apontam para uma tendência de redução de 18,4%. (Confira o relatório aqui).
Porém, se comparados aos números absolutos de beneficiários da previdência, os benefícios concedidos às PVHA são tão ínfimos que não mereceriam o constrangimento pelo qual passam esses seres humanos nas perícias médicas realizadas por peritos que nem sequer olham para as pessoas. As PVHA representam apenas 0,9% do total de benefícios previdenciários.
“Em relação aos gastos, observamos que benefícios pagos em decorrência da aids, no valor de R$ 26,6 milhões anualmente, representam 1,1% dos dispêndios totais com doença da Previdência no Brasil. A aposentadoria é o benefício que mais contribui para a elevação desses gastos, seguido do auxílio doença. Os gastos com amparo social são aqueles que menos contribuem para os dispêndios associados a aids”, informa o relatório.
Em entrevista ao site da RNP+, a advogada Áurea Abbade, pioneira na defesa dos direitos trabalhistas das PVHA, fundadora da primeira ONG a trabalhar com a questão da aids na América Latina, afirma claramente que assim como no começo da epidemia, “os portadores continuam sendo discriminados, demitidos, sem direitos, havendo vários processos em trâmite na Justiça do Trabalho”.
Relançada no final de 2007 na Câmara dos Deputados, espera-se que a Comissão Parlamentar sobre HIV e aids do Congresso Nacional seja sensibilizada com a questão e promova lei que incentive as empresas, inclusive com renúncia fiscal, a contratarem PVHA. Simplesmente porque a gente não quer só remédio, a gente quer trabalho, o pão de cada dia e um pouco de circo de vez em quando.