quarta-feira, 5 de março de 2008

Grupo de risco, não!

No hospital, a mãe pergunta pelo diagnóstico do filho, recém-internado. O médico diz que o estado de saúde do paciente é grave. Ela responde que sabe que o filho é “viciado”, que “pertence ao grupo de risco”, que o médico pode falar. “Ele tem aids, não é doutor?” Sem dizer à mãe que ela precisava reavaliar os próprios conceitos, o médico responde que o rapaz tem dengue hemorrágica. A cena não aconteceu nos rincões do Brasil, mas na telinha da TV Globo. Mais precisamente na noite desta terça-feira, em “Duas Caras”, programa com altos índices de audiência.
É espantoso que um autor como Aguinaldo Silva ainda coloque em seus textos referências alusivas a conceitos já superados pela ciência. É por causa dessa história de “grupo de risco” que as pessoas têm se infectado com o HIV. A aids não é uma doença apenas de homossexuais, prostitutas, usuários de drogas e hemofílicos. A aids é uma doença de quem faz sexo sem camisinha ou que compartilha agulhas e seringas contaminadas.
Recentemente, em um seminário, parte da equipe de comunicação do Ministério da Saúde elogiou a TV Globo por inserir no “Big Brother Brasil”, tarefa didática sobre a prevenção da dengue. Agora, devia dar um puxão de orelha em toda a equipe da novela. Será que nem a Marília Gabriela tem essa informação? Tudo bem que ninguém precisa saber que os usuários de drogas foram o grupo que mais adotou as estratégias de prevenção à infecção pelo HIV. Até o “comportamento de risco”, conceito que substituiu o de “grupo de risco” já foi substituído.
Por isso, Aguinaldo Silva, da próxima vez, “grupo de risco”, não!

3 comentários:

Anônimo disse...

DISCORDO...

Caro, Paulo,

As vezes nos precipitamos ao considerar os outros ignorantes...O Conceito de Grupo de Risco não exclui os que não estão nele de contrair a doença (no glaucoma pessoas negras e diabéticas são grupos de risco, mas brancos também contraem muito:http://www.drashirleydecampos.com.br/noticias/10837 ). Portanto, Grupo de Risco segue sendo correto (me parece que foi abolido também, devido a uma atitude politicamente correta). Por exemplo, os transsexuais paulistanos contraem muito mais HIV do que os heterossexuais ou homossexuais monogâmicos, pois têm mais parceiros e estão expostos ao preconceito e situações de risco, constantemente (sexo anal receptivo, violência sexual etc.). Entretanto, heterossexuais monogâmicos não estão isentos, podem contrair também, facilmente.Uma coisa não exclui a outra.A multiplicidade de grupos de risco, criou o conceito de comportamento de risco(http://www.sbcp.org.br/revista/nbr232/P128_129.htm), mas o comportamento de risco está nos grupos de risco e para entrar nele basta praticar sexo sem preservativo.

Ainda, em relação aos viciados em drogas injetáveis, você, melhor do que eu, deve saber que a probabilidade de se contrair HIV por meio delas é de 67/10000.Com transfusão de sangue, 9000/10000. Sexo anal receptivo 50/10000. Assim sendo, os riscos são variáveis, sendo que drogas injetáveis e transfusão lideram a lista de probabilidades, e o "puxão de orelhas" é uma medida ditatorial, ao meu ver. Acredito que você levou "ao pé da letra".

Um outro questionamento é a redução de parceiros, visto que muitos estudos mostram, que associada ao uso do preservativo, é bastante funcional. Mas sozinha não funciona, tem que ter preservativo. É preciso não ser maniqueísta nessas horas. Porque algo não está certo, não signfica que esteja completamente errado.

atenciosamente,
bebeto_maya

Anônimo disse...

HIV, embora possa ser contraído por qualquer um, não está homogeneamente distribuído pela população, havendo perfis com maior probabilidade de estarem contaminados, dentre os quais, usuários de drogas injetáveis e homossexuais masculinos. Essa maor probabilidade não é meramente um acaso estatístico, mas fruto de um processo de retro-alimentação de práticas mais suscetíveis a contaminação pelo vírus. Esses são designados "grupos de risco" devido a esses aspectos epidemiológicos.

É um infortúnio que algumas pessoas entendam isso como que, estando fora desses grupos, significaria estar livre de risco, mas também não é benéfica a promoção da idéia de que não há fatores de risco.

Paulo Giacomini disse...

Prezados,
O que escrevi em 2008 foi uma pequena análise de como se difunde, pelos meios de comunicação, de conceitos e representações que mais confundem do que esclarecem.